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Baixe esse texto em: Adolescência e crise

Inicialmente é importante dizer que o desenvolvimento é marcado por mudanças que ocorrem o tempo todo, durante toda a vida.

Entretanto, em certos momentos, mudanças significativas ocorrem. Ou seja, quando uma criança aprende a falar, todas as suas interações mudam, seu pensamento muda e até mesmo o seu sistema nervoso muda em função de novas sinapses que são criadas.  Essas mudanças são sistêmicas, porque qualquer tipo de mudança afetará o sistema inteiro.

Outro ponto significativo é que quando ocorrem mudanças importantes, como é o caso do que ocorre na puberdade, por exemplo, um jovem sente que os velhos padrões de pensar e falar, não funcionam tão bem quanto antes e é preciso um tempo para elaborar novos padrões.

Erik Erikson demonstrou a existência de certos dilemas, correspondente a esses períodos de mudanças marcantes. Interessado no desenvolvimento da personalidade, ele observou que existem estágios de desenvolvimento aos quais chamou de estágios psicossociais, pois são marcados por exigências culturais comuns em determinada idade.

Cada um desses estágios terá um dilema ou tarefa social em particular a ser resolvida e o grau de sucesso com que uma criança atende a essas demandas, dependerá fortemente de suas interações com as pessoas e com os objetos de seu mundo.

Imaginemos Maria, uma criança entre 2 e 3 anos. Ela está madura para ter algum controle sobre seus movimentos musculares e isso é uma base para desenvolver um senso de independência e autonomia. Ao explorar o que está ao seu redor, Maria direciona sua energia a essas experiências e à conquista de autonomia. Nesse período da vida, ela também será iniciada na educação para a higiene (vaso sanitário), na verbalização e, também, começa a experimentar sua vontade autônoma.

Caso os esforços de Maria não sejam cuidados pelos pais e ela venha a experimentar fracassos repetidos, o resultado dessas explorações pode acarretar vergonha e dúvida ao invés de um senso básico de autoestima e autocontrole.

Quando Maria ingressar na fase adolescente ela viverá experiências com impacto muito forte na construção desse sentimento de identidade, que continuará a se formar durante outros estágios de sua vida adulta.

Há uma compreensão geral de que a adolescência está compreendida entre os 12 e os 19 anos. Mas é certo, que o início da puberdade marcará o início da adolescência de Maria e ela viverá uma importante transição, cheia de mudanças significativas nos aspectos físico, social e intelectual.

Ao longo de sua adolescência surgirão mudanças cerebrais, ela passará por um estirão de crescimento, alcançará a sua maturidade genital e passará por mudanças físicas – onde o seu corpo ficará mais parecido com o de um adulto. Sua estrutura de pensamento ficará mais complexa, ela revelará traços de personalidade mais profundos, fará críticas sociais comparativas, terá conflitos com os pais e participará de panelinhas (com grupos de iguais). Certamente Maria terá algum envolvimento ideológico com grupos, muita imaginação com os impulsos e a intimidade sexual, além é claro, de aprofundar amizades.

Maria se encontrará em um tipo de contínuo estado de desequilíbrio em função da perda do sentido de continuidade e uniformidade que ela construiu até aqui. Seus velhos padrões já não funcionarão e os novos ainda não terão sido estabelecidos. O seu futuro imediato se colocará com um número excessivo de possibilidades e opções conflitantes. Ela se preocupará com o que se parece aos olhos dos outros em comparação com o que se julga ser.

Ao final de tudo isso, é esperado que ela estabeleça um novo senso de identidade.

Aproximadamente aos 17-18 anos o estado de desequilíbrio de Maria começará a ceder espaço para certas acomodações e conexões necessárias, de forma a que ela construa um novo senso de identidade, persiga novas metas e desempenhe novos papéis.

Em certa medida, os primeiros anos de sua adolescência terá muito em comum o que ela passou na idade em que deu os seus primeiros passos. Naquela idade foi comum ela ter experimentado um certo negativismo e como já falamos, ela estava numa busca constante por independência e conquista de novas habilidades.

Maria, adolescente, demonstrará o mesmo ímpeto de exploração e independência, só que agora em níveis mais abstratos. Não será incomum que ela venha a passar por períodos de negativismo, particularmente com os pais e cuidadores, bem no início da puberdade. Muitos desses conflitos de Maria, girarão ao redor de independência tais como liberdade para ir e vir, quanto a usar certos estilos de roupas e cabelos, adotar certa ideologia etc.

Tanto a segunda idade (meninice) quanto a quinta idade (adolescência) são caracterizadas por uma nova pressão interna por independência e confrontos com os pais quanto a limites.

Tanto para a criança quanto para o adolescente, os mais confiantes e bem sucedidos serão aqueles cujas famílias lidam bem com o equilíbrio. Pais devem buscar o equilíbrio entre permitir a exploração e garantir a segurança para a criança, bem como fornecer segurança – na forma de regras e limites claros e permitir a independência dos adolescentes.

Podemos notar que tanto a meninice quanto o início da adolescência, guardam a comum tarefa de estabelecer uma identidade separada. Maria criança deve separar-se do simbiótico relacionamento com a mãe, ou com algum outro cuidador, e reconhecer que possui certas capacidades. Maria iniciando a adolescência deve se separar de sua família e de sua identidade infantil, formando uma nova identidade como adulto.

Caso Maria não seja bem sucedida na resolução da tarefa, o que a ela se imporá será uma má adaptação, expressa por uma confusão de papeis onde ela não enxergará claramente o que é e como poderia se relacionar positivamente nos diversos contextos onde ela irá interagir. Resultará um certo sentimento de vazio e de não se encaixar no mundo adulto. Pode resultar um certo fanatismo e extremismo por apegos ideológicos sem crítica.

Em caso positivo, a boa resolução desse dilema adolescente levará Maria a um novo sentimento de identidade, de individualidade, e convicção interna de ser capaz de assumir a própria vidaem diversos contextos.

Assim, a cada estágio de seu desenvolvimento, Maria conquistará virtudes pela boa resolução dos dilemas (ou tarefas demandadas) ou acumulará más adaptações, decorrentes do insucesso ao lidar com tais dilemas.

Maria continuará a sua jornada deparando-se com novos dilemas e crises que lhe desafiarão a conquistar novas virtudes e capacidades e, gradualmente, irá modificando o seu senso de identidade.

Autor: Willian Bull

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