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Baixe esse texto em pdf: As três forças básicas do ego

Ao longo dos nossos estágios de desenvolvimento psicossocial enfrentamos tarefas adaptativas. São tarefas que envolvem elaborar uma tensão entre o “currículo social” e o “currículo interno” do nosso desenvolvimento. O currículo social é representado pelas expectativas do ambiente na forma de pessoas e instituições que influenciam nossas vidas; o currículo interno tem a ver com as nossas necessidades e os nossos impulsos naturais de crescimento e de realização pessoal. Na reciprocidade e mutualidade das trocas afetivas nas relações com o ambiente, vamos construindo recursos emocionais e cognitivos que definirão imagens e representações do quem sou euque lugar quero ocupar no mundo, com quem quero compartilhar o meu desenvolvimento e que realizações significativas quero deixar.

Cada estágio implica numa tarefa de crescimento, uma tarefa de encontrar boa solução entre dois opostos. A felicidade que tivermos em desenvolver boas soluções nos estágios vão gerar virtudes como recursos para nos guiar adiante e lidar com os próximos desafios de desenvolvimento. As virtudes é que nos terão tornado pessoas capazes de dirigir a própria vida. Isto envolve sermos capazes de responder às necessidades internas e de nos vincular de maneira ativa com as demandas do ambiente. Também nos permitirá sustentar vínculos sociais construtivos, participativos e éticos, e nos manterá identificados com as escolhas dos papéis que assumimos e ainda assumiremos na vida.

Dos oito estágios do nosso desenvolvimento, três deles são determinantes para a estruturação de um sentimento de si mesmo autorreconfortante e sustentado internamente por fortes convicções capazes de nos projetar ao longo do tempo. Esse sentimento interior é construído principalmente por três forças centrais e distintivas de um ego saudável: esperança, decorrente da boa solução do primeiro estágio infantil da nossa vida cujo tema é o da confiança básica X desconfiança básica; fidelidade, decorrente da oposição entre identidade realizada x confusão ou difusão da identidade, produto do quinto estágio, o da nossa adolescência; e cuidado, feliz resultante do conflito entre generatividade X estagnação ou autoabsorção, tema do nosso sétimo estágio.

Essas três forças representam virtudes básicas que “qualificam” uma pessoa jovem a entrar no ciclo produtivo, criativo e reprodutivo, como alguém que continua a espécie humana e, para um adulto, concluí-lo ao longo do tempo como quem contribui socialmente com algo “além de si mesmo”.

Esperança é uma força que se sustenta pela autoconfiança e convicção de que a vida à frente acontecerá bem e que as pessoas são, em geral, confiáveis. Há uma confiança interna de que “recebi” um cuidado capaz de alimentar um sentimento de vivacidade, alegria e de base para cultivar as qualidades dos próximos estágios: sentimentos internos de força de vontade, ação autoiniciada e competênciaEsperança se expressa por um sentimento expectante e excitante de que coisas boas, agradáveis e interessantes estão por acontecer. A esperança confere ao futuro antecipado uma sensação de liberdade que convida a experimentar ousadias instigantes, seja na imaginação preparatória ou em pequenas ações iniciadoras. O contrário disso pode tornar as pessoas distantes, desinteressadas por aprender, receosas de riscos ou mesmo deprimidas.

Fidelidade sintetiza um desenvolvimento saudável da identidade, nosso quinto estágio. Esse é o estágio que media a infância com a vida adulta. Não é apenas uma renovação da capacidade de confiar, mas, também, é a demonstração de que “eu posso ser confiável”. É também sentir-se capaz de ser leal a causas que irão dirigir as forças para uma perspectiva temporal capaz de integrar o passado, o presente e o futuro, e sustentar as futuras escolhas que afetarão a vida profissional, afetiva, crenças e valores, e papéis sociais – tudo isso estruturado numa forte coerência interna. Identidade mal resolvida poderia gerar dificuldades de aceitar diferenças, confusão de valores, atitudes “fanáticas” e um sentimento de falta de projeto pessoal.

Cuidado se revela no impulso instintivo para mostrar carinho, acalentar, nutrir, animar. O cuidado também se amplia no cuidado com as próprias ideias e criatividade, como também no cuidado e interesse pelas próximas gerações. A vida adulta começa a se concluir nesse sétimo estágio quando há um sentimento de que poderemos deixar algo melhor do que encontramos. Soluções infelizes podem gerar “crises da meia-idade”, sentimentos de não estar realizando as próprias capacidades bem como desinteresse pelas novas gerações.

Estes três valores universais quando bem estruturados refletem boas organizações dos estágios anteriores. Podem ser compreendidos como importantes referenciais da nossa “saúde psicossocial”. Por meio deles podemos rever nossos sistemas de crenças e valores, ideologias e a instintiva necessidade de autorrealização.

Vale também concluir que tais forças serão as propulsoras para o último estágio de nossas vidascujo tema é o da integridade do ego e seu conflito básico da sabedoria X desespero. Desse estágio colocamos nossas vidas em perspectiva, reconhecendo e aceitando quem nos tornamos, que não temos arrependimentos importantes e encontrando um acordo com nossas vidas. Veremos que nossas conquistas foram cultivadas pela esperança, fidelidade ao “esse sou eu”, aos nossos sistemas de valores, e pela possibilidade de ter realizado, ao máximo, a própria capacidade para acreditar, criar, produzir e cuidar.

*Baseado em Erikson, E; Erikson, J. The Life Cycle Completed. USA. Norton. 1997.
Imagem: https://visualhunt.com/photos

Autor: Marcos Luiz Bruno

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